Todos os dias são vésperas. Em cada véspera, uma expectativa nova e a esperança que renasce, ainda depois de morta tantas outras vezes. Eu não sei o que se encontra do outro lado dessa porta que separa o presente do futuro. Eu não sei o que me aguarda por trás das sombras da noite que precede o próximo amanhecer. Eu não sei quando, como ou por quê. Eu não sei (quase) nada sobre amanhã.
E esse não-saber é qualquer coisa que mantém vivo em mim o desejo de continuar firme, de virar a maçaneta, de ouvir o roncar da porta ao abri-la. De não estar simplesmente esperando, mesmo enquanto espero. De não permanecer inerte, ainda que eu não possa escapar da correnteza. Porque não saber é pressuposto da esperança. Porque não saber é o que nos possibilita imaginar, inventar, idealizar. Porque não saber nos permite, sobretudo, sonhar.
Todos os dias são vésperas, e hoje é mais véspera do que ontem. Porque o amanhã é grande, tão grande, que quase invade o momento presente. Porque o amanhã para mim é mais do que um talvez, vai além de um delírio sem forma: é uma promessa prestes a se realizar.
E hoje, enquanto véspera mais véspera do que os outros dias, eu me vejo mergulhada nessa felicidade triste de quem precisa largar o ontem para ganhar o amanhã. Um ontem que não foi sempre bem-vindo, é verdade. Mas um ontem que me foi prestante e que me foi presente por tempo o suficiente para me integrar. Esse ontem que me fez diferente, que me fez sozinha pra me fazer melhor. Aquele mesmo ontem que me tirou o chão tantas vezes e me fez cair, cair, cair até que eu aprendesse (e desaprendesse novamente) a voar. Um ontem que hoje eu deixo pra trás, embora eu saiba que estará em alguma parte de mim para sempre. Porque no amanhã ainda haverá todos os ontens, escondidos nos traços do meu rosto e na força dos meus ideais.
Hoje eu queria dissolver a angústia, desmanchar as dúvidas e mergulhar na esperança doce da quase-chegada. Eu quero ser quase, a um passo de ser completa. Eu quero, apenas e tão-somente, acreditar.
andreia marinho
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