terça-feira, maio 20, 2008

Estória do Gato e da Lua



“No princípio era o negro absoluto, a imensidão calma da noite.
Depois ela surgiu e tudo mudou.
Há muito que deixei de a procurar, agora tudo é mais calmo.
Aprendi que o melhor é esperar. Ela virá quando puder... ou quiser.
Sei que um dia virá ter comigo, senão porque passaria horas a fio, noites inteiras a observar-me?
Nada mais importa. Eu espero...

Mas nem sempre fui assim.
Depois de a conhecer a minha vida mudou. Procurei segui-la, por ela atravessei mares, corri oceanos, cheguei mesmo a andar à deriva. Tudo fiz para a encontrar. Quando julguei estar perto... estava ainda bem longe.

Senti-me perdido, sem saber o que fazer. No meio de tanto mar o barco tornava-se cada vez mais apertado, o mundo cada vez mais pequeno para toda aquela paixão!

Foi então que mudei de vida. Arranjei casa e confortavelmente instalado, julguei irrecusável a minha proposta.

Mas, de novo, ela fugiu.

Desesperado, fui então de telhado em telhado atrás dela, escravo daquele desejo, prisioneiro daquela atracção que pouco a pouco me deixava cada vez mais só.

E o tempo passou...
Agora já não corro, espero apenas.
O resto não importa...”

“Estória do Gato e da Lua”, Pedro Serrazina, (1995).